Uma visão aprofundada da inovação aberta na indústria 4.0

A indústria 4.0 e as suas possibilidades fazem do tempo atual uma nova era industrial, a era dos dados. Há um conceito que vem ganhando a atenção dos líderes e é chamado de “inovação aberta”. Se você ainda não conhece, a ABII – Associação Brasileira de Internet Industrial vai te apresentar, em detalhes, quais são os impactos que o conceito pode ter na indústria nacional.

Embora o conceito já tenha uma década, na prática não é tão abordado no Brasil. O termo foi criado por Henry Chesbrough, professor da universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, autor de um livro que leva o mesmo nome.

Além do livro, Henry também abordou o que é a inovação aberta em um importante artigo publicado na Forbes, denominado Everything You Need to Know About Open Innovation. No artigo, ele explica que: “Inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimentos internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”.

Basicamente, o que o conceito propõe é que as indústrias estejam mais abertas a projetos e parcerias externas e que utilizem a tecnologia desses parceiros para potencializar aquilo que elas já têm a oferecer.

Para explicar melhor o tema e trazer exemplos práticos, a ABII convidou um especialista na área: Cássio Barbosa, fundador da Hedro, empresa associada que tem sede em Minas Gerais. E para começar, ele explica a relação da Hedro com a inovação aberta e de que forma passaram a aderir às práticas.

Foi em 2019, quando observaram que não apenas as indústrias já consolidadas, mas também as startups, utilizavam-se de meios antigos para fazer o novo. A defasagem no manuseio de dados era visível. “A indústria brasileira ainda utiliza equipamentos antigos e não consegue migrar para a indústria 4.0. Tenta pular etapas, quer passar da indústria 2.0 para a 4.0. Se os dados não estão lá, como vai trabalhar com eles?”, questiona Cássio.

A Hedro, que é uma empresa voltada para a digitalização de processos e máquinas antigas, percebeu que algo precisava mudar. Elaboraram formas de trazer a inovação para dentro das indústrias parceiras. Primeiro, apresentando sensores que, quando conectados a mecanismos de produção, captavam dados de grande relevância para as equipes gestoras.

“Levamos a um cliente tecnologias como os sensores para aprimorar o que era necessário. Por fim, as necessidades foram surgindo, como identificar vibrações em equipamentos. A importância desse acompanhamento foi crescendo. Vimos a possibilidade de digitalizar os equipamentos, a empresa gostou e investiu”, explica Cássio.

É muito comum que as empresas obtenham acessórios como esses para a utilização interna. O que a Hedro fez foi exatamente trazer o conceito de inovação aberta para as suas parceiras, oferecendo inúmeras possibilidades de crescimento.

Questionado a respeito da privacidade dos dados coletados nas empresas, o especialista esclareceu que todas as práticas levam em consideração o consentimento prévio do cliente. E diz que: “De fato os dados são da empresa, nós apenas armazenamos, eles escolhem fazer o que quiserem. Nós só começamos a explorar as possibilidades de novos produtos em conjunto e oferecemos a possibilidade de enviar os dados para outras empresas parceiras. Os clientes decidem o que será feito”.

Acrescentou também que gostaria de poder atuar mais com as startups, pois enxerga nelas grandes propósitos e notáveis possibilidades de crescimento e inovação.

O executivo da Hedro lembrou do momento exato em que perceberam como a indústria brasileira carecia de se abrir mais para as possibilidades. Em um evento com 50 startups, ele observou que todas buscavam de forma isolada resolver seus problemas, não havia parceria, não eram capazes de realizar um trabalho conjunto.

“Lá eu vi cada um por si, havia várias empresas desenvolvendo hardwares, que por sinal eram difíceis demais. Todos faziam basicamente a mesma coisa e quando chegaram no momento de escalar os projetos com a indústria, se frustravam. Os produtos finais, que deveriam viabilizar a escala com as indústrias, ainda tinham características de protótipo, o quê acabava inviabilizando a adoção do projeto, apesar dos bons resultados das provas de conceito”, comenta Barbosa.

Ele sabe que as parcerias sólidas são a única forma de resolver esse tipo de problema. Foi então que percebeu a necessidade de a tecnologia complementar chegar a essas startups e grandes indústrias.

Segundo Cássio, a cultura da indústria 4.0 ainda não está plenamente difundida na mentalidade dos empresários. É necessário que o conhecimento seja divulgado, demonstrando na prática os benefícios da transformação digital, assim como faz a Hedro.

“Precisamos de muita criatividade, estamos andando para trás economicamente, a indústria brasileira está defasada se comparada ao mundo. Principalmente para fazer investimentos. A inovação aberta traz a criatividade, coisas simples podem fazer coisas grandes. Um sensor de R$ 100 por mês pode conectar uma prensa da década de 90 na internet. É preciso pensar que essa é uma transição, não um pilar definitivo”, alerta.

As dificuldades irão surgir, disso não há dúvida. É um processo onde as falhas e as otimizações irão acontecer de forma permanente. Cássio fala dos problemas já encontrados pela Hedro: “Enfrentamos todos os problemas imagináveis: contábeis, de acesso ao crédito, dificuldade com importação de hardware, taxas nos importados e outros impostos estaduais como ICMS. A dificuldade é logística e contábil. O Brasil ainda não está apto para enfrentar bem esse desafio. boa notícia é que o marco da startup e a crescente onda de investimentos em indtechs têm sido bons para trazer novos ânimos a esse mercado”.

Recentemente, a Hedro foi selecionada para resolver um desafio na empresa Gerdau, apresentado pela Porto Digital pelo programa Desenvolve.ai. O especialista diz que a Gerdau enxergou isso da forma que precisa ser enxergada, como uma oportunidade de crescimento.

A Hedro planeja crescer e levar a inovação para diferentes cantos do Brasil. Barbosa relata o histórico da empresa nos últimos meses: “Hoje estamos mais regionais, em Minas Gerais, mas a Gerdau levou a gente para São Paulo e Pernambuco. Vejo que as indústrias do Sul estão mais abertas e preparadas para se modernizar. Ainda devemos crescer mais aqui no sudeste com a indústria de base, mas temos locais mais abertos a nos receber. Começamos a oferecer o Sensor H1.2 em julho e a receita já se multiplicou por 10. Deveremos ir para o Sul, mas no momento certo”.

Para Cássio, há muito potencial para o crescimento da inovação aberta no Brasil e esse é o melhor caminho para o crescimento próspero e duradouro. A experiência da Hedro deixa bem evidente a importância do papel das parcerias no crescimento das indústrias que desejam abraçar a inovação.

Sejam as grandes indústrias ou as startups, não é conveniente tentar resolver tudo de forma isolada. É preciso abraçar a transformação digital e se abrir para novas possibilidades de crescimento.

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