Alemanha é um dos países que já sinalizou interesse em Hidrogênio Verde e estima-se R$ 150 milhões por ano para exportação do recurso
O Paraná segue sendo um dos estados brasileiros pioneiros no desenvolvimento de Hidrogênio Renovável, que pode ser considerado o futuro da energia limpa. O Governo do Estado do Paraná, junto à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), lançou o Plano de Hidrogênio em agosto de 2023, com o intuito de mapear o cenário do Hidrogênio Verde no Estado e desenvolver medidas voltadas ao licenciamento, financiamento e desoneração da cadeia produtiva.
Além da busca por medidas mais sustentáveis para a diminuição das mudanças climáticas, existem outros interesses para o H2 renovável: a exportação. Acredita-se que o Hidrogênio Renovável seja um instrumento fundamental para atingir o principal objetivo do Pacto Verde da União Europeia, também conhecido como European Green Deal. Nesse cenário, o Brasil surge como parceiro estratégico para metas energéticas e climáticas dos países europeus.
Com objetivo de viabilizar a produção de Hidrogênio Renovável no estado, por meio da Fundação Araucária e da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), o Governo do Paraná instituiu o NAPI H2, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Unioeste, Unicentro e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), essencial para o fortalecimento das bases tecnológicas do Paraná, com investimentos de R$ 3,6 milhões em cooperação técnico-científica.
Helton Alves, professor da Universidade Federal do Paraná, fundador do Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (Labmater) e Diretor Técnico-Científico da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), explica que o NAPI H2 é uma rede de pesquisa e inovação do hidrogênio, focada na capacitação de recursos humanos e no desenvolvimento de pesquisas focadas no tema. “Estamos desenvolvendo pesquisa sobre a rota tecnológica do hidrogênio a partir do biogás, que vem da biomassa. Escolhemos essa rota, pois acreditamos que o Brasil tem um grande potencial em se tornar produtor, por conta das matérias-primas já disponíveis no país. Nosso trabalho agora é aprimorar e escalar tecnologias focadas em viabilizar esse projeto”.
Diferentemente de outros estados brasileiros, o Paraná está buscando desenvolver a produção de Hidrogênio Renovável a partir do biogás, um tipo de biocombustível produzido com biomassa, ou seja, decomposição de materiais orgânicos gerados pelas indústrias.
“Atualmente, é utilizado vapor de água e metano do gás natural (não renovável) para produzir hidrogênio. O NAPI H2 estuda como obter esse metano a partir do biogás, uma fonte renovável de energia, produzida a partir da biodigestão anaeróbica da biomassa, para assim poder produzir Hidrogênio Renovável. Além disso, é possível utilizar o mesmo biogás para a produção de combustíveis avançados e amônia, que também tem mercado nas indústrias de fertilizantes de nosso país”, explica o professor da UFPR.
Um dos países europeus interessados na produção de H2V é a Alemanha. O governo do país já anunciou que o Hidrogênio Verde é uma das fontes de energia renovável estratégicas para abandonar os combustíveis fósseis, uma das metas a serem batidas até 2030, de acordo com a Lei das Fontes de Energias Renováveis do país. Para isso, a Alemanha terá de importar dois terços do Hidrogênio Verde que deverá demandar.
“A Alemanha não é só um país que entende muito de energia renovável, mas sobretudo que compreende a eficiência energética. Então, não é só produzir energia por meio do sol, do vento ou da água, mas de maneira que tenha o mínimo de desperdício possível. E aí o Brasil tem o know-how e pode dar consultoria para vários projetos. Este é um mercado estimado em R$ 150 milhões por ano para exportação”, destaca o cônsul honorário da Alemanha em Curitiba e diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Paraná (AHK Paraná), Andreas Hoffrichter.
Toledo, na região oeste do estado, vai sediar uma nova usina de biogás, que também será a primeira central de saneamento rural do Brasil. Trata-se de um empreendimento que conta com tecnologia e subsídioalemão e que promete potencializar a transformação de dejetos da suinocultura em energia, biocombustível e fertilizantes.
A AHK Paraná, como representante oficial da economia alemã no estado, está liderando debates sobre o tema desde 2023. No mês anterior, foi realizado o Hydrogen Dialogue em pareceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Alemanha de São Paulo e a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit – Agência Alemã de Cooperação Internacional), no ecossistema de inovação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, o Hotmilk. O evento reuniu profissionais das áreas de energia, sustentabilidade, meio ambiente e agronegócio, contando com a presença de empresas que produzem, consomem ou oferecem soluções relacionadas ao hidrogênio verde. Discutiu-se o H2V como uma ferramenta de descarbonização do agronegócio. Além disso, houve a promoção de um matchmaking entre empresas e startups para incentivar a formação de parcerias interessadas no tema.
“Desde 2023, estamos trazendo debates sobre a produção de hidrogênio verde em nosso país. Nosso intuito é despertar o interesse de empresas alemãs em investir em projetos de H2V aqui no Brasil, sobretudo em nosso estado”, destaca Augusto Michells, gerente regional da AHK Paraná.
Ainda estamos no início da conversa sobre Hidrogênio Verde. Não se tem uma previsão para a regulamentação final e nem para o início da produção. Contudo, os estudos sobre o tema avançam dia após dia, já que o composto orgânico, além de ser utilizado para gerar eletricidade ou armazenamento de energia, também pode ser combustível para carros, aviões, caminhões e navios para a indústria nacional e internacional.
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